Procurador do Apito Dourado acusa juíza de julgar para absolver
NUNO MIGUEL MAIA
JN
Magistrada que ilibou Pinto da Costa está revoltada com "ofensas" e queixa-se a Pinto Monteiro.
O procurador que representou o Ministério Público (MP) no caso do "envelope", do Apito Dourado, arrasa a juíza de Gaia que absolveu Pinto da Costa, num recurso para o Tribunal da Relação. A visada já fez queixa a Pinto Monteiro.
O uso de expressões como "santa inocência"; críticas por não ter censurado as "mentiras" e a "grande peta" dos arguidos, e perguntas sobre um eventual preconceito da magistrada Catarina Ribeiro de Almeida em relação a Carolina Salgado, que visaria, de antemão, absolver o líder do F. C. Porto, fazem parte dos argumentos adoptados por José Augusto Sá para convencer o Tribunal da Relação do Porto a anular a absolvição do crime de corrupção desportiva decretada no Tribunal de Gaia.
Pinto da Costa, o árbitro Augusto Duarte e o empresário António Araújo também não escapam à ironia do procurador. O dirigente portista chega a ser designado como "Papa" e "engenheiro", numa alusão a escutas telefónicas interceptadas pela PJ a 16 de Abril de 2004, quando aquele árbitro visitou a casa na Madalena, em Gaia. "Se até o primeiro-ministro José Sócrates é engenheiro por que é que o Pinto da Costa também não há-de ser?!", escreveu, em nota de rodapé.
Ao ler o recurso, em especial as expressões que lhe são dirigidas (ver coluna ao lado), a juíza Catarina Ribeiro de Almeida não gostou. E mandou extrair certidões para envio para o procurador-geral da República, Pinto Monteiro, que pode abrir processo-crime, e ao Conselho Superior do MP, para inquérito disciplinar. "As expressões encontradas pelo Senhor Procurador (...) são absolutamente desadequadas e, algumas delas, ofensivas da dignidade profissional da signatária", escreveu.
Os argumentos do recurso magistrado do MP passam, em primeiro lugar, pela interpretação das escutas. Diz ser indiscutível que os arguidos estavam a preparar uma "tramóia" e que o objectivo era subornar o árbitro, apoiando-se em expressões como "gerente de caixa" e "ver uma obra" de noite. "Isto é uma conversa de parvos e atrasados mentais?", questiona.
Depois, José Augusto Sá insiste na expressão "cheirinho", usada depois do jogo, por Pinto da Costa, numa escuta com Pinto de Sousa, defendendo ter sido usada como desabafo por o árbitro ter "beneficiado pouco" o seu clube.
Carolina também é defendida com unhas e dentes, principalmente porque "uma versão contrária é que seria de estranhar", no que toca à entrega de dinheiro. E frisa que, perante juízes - não a PJ -, a ex-namorada de Pinto da Costa manteve sempre a mesma versão.
O procurador insurge-se, também, por, na sua óptica, a juíza ter usado "dois pesos e duas medidas" a avaliar as versões de Carolina e dos arguidos, que justificaram a reunião com um pedido que visava que o pai de Augusto Duarte largasse uma alegada amante. Sobre isto, nada foi referido na sentença. A terminar, o procurador apela aos juízes-desembargadores a pensarem no "prestígio da justiça" e a esquecer a "alma clubista".
Obrigado Quique. Venha o próximo e siga para bingo...
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